12º Dia – Recuperando A História
Sem querer aqui colocar em xeque trabalhos alheios, ou mesmo vilanizar possíveis “concorrentes”, não posso me furtar a tecer este comentário.
Até onde sei, há apenas 3 livros sobre a Dona Ivone Lara. Um deles é o livro Álbum de Retratos: Dona Ivone Lara, publicado em 2007, um projeto muito interessante de recuperação imagética de alguns ícones da cultura nacional. Para cada exemplar convidou-se alguém notório para fazer a ilustração das fotos. No que se refere ao volume sobre Dona Ivone, acho muito pouco provável que a grande cantora Zélia Duncan tenha recebido pormenores sobre as fotos com as quais teve que trabalhar. Assim, então, isentamos Zélia, pois a questão vai muito além dela ou mesmo dessa publicação, ela apenas ilustra os descaminhos e descasos com a cultura popular no Brasil.
A foto de Dona Ivone Lara que aparece na contra-capa do LP Quem Samba Fica? _ Fica!, o primeiro de sua carreira, ainda que coletivo, aparece também no livro de 2007. Nele lê-se:
Dona Ivone toma o cavaquinho pra ensinar o que não se aprende na escola! Depois que a lição foi aprendida por seus músicos, sente-se mais livre pra compor e viajar nas suas canções.
A história que o texto de Adelzon Alves conta é muito diferente. Como pode-se ler na foto acima, Dona Ivone estaria em uma roda de samba no Castelo Branco, um “club de homens”, em Madureira. Sua presença, segundo o texto de Adelzon, nada mais é que uma exceção aberta à sambista.
Não sei vocês, mas a minha percepção da foto mudou completamente depois de ter acesso a essa contra-capa.
Além disso, desejo muito saber que história é essa de “clube de homens”. Por exemplo: eles eram como as várias igrejas do Rosário espalhadas pelo país, eram clubes de homens pretos/de cor? Alguém aí sabe?
Nossos trabalhos de pesquisa têm que ser muito mais profundos do que imaginamos.
E a partir desse exemplo gritante, ressalto a importância de conhecermos a história de vida e profissional de figuras brasileiras como Dona Ivone Lara. Embora o livro que escrevi não seja uma biografia de Dona Ivone – está longe de ser – a minha preocupação foi mostrar que a artista Ivone Lara é muito, mas muito mais que uma “boa velhinha simpática”.
Sua história de vida me ajuda a me entender como brasileira, como carioca, como mulher negra. Aprendi com ela que nossos passos vêm mesmo de muito longe, e são muito firmes. E ela traz em si, literalmente, histórias que têm que ser coletadas, catalogadas, divulgadas, preservadas – exatamente nessa ordem.
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